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Jorge Luis Borges (1899-1986)

Dezessete Haiku
tradução: Amálio Pinheiro

1

Algo me disseram
a tarde mais a montanha.
Mas isso já era.


2

A extensa noite
não é agora outra coisa:
alguma fragrância.


3

Mas é ou não é
o sonho que eu esquenci
quase manhãzinha?


4

Calam-se bordões
A música já sabia
o que estou sentindo.


5

Hoje não me alegram
no horto as amendoeiras:
elas te relembram.


6

Obscuramente
livros, lâminas, chaveiros
seguem minha sorte.


7

Desde aquele dia
não movimentei as peças
no meu tabuleiro.


8

Em qualquer deserto
acontece a alvorada.
Alguém está sabendo.


9

A ociosa espada
sonha com suas batalhas.
O meo sonho é outro.


10

O homem está bem morto.
A barba não sabe nada.
Vão crescendo as unhas.


11

Esta aquela mão
que certa vez encostava
em tua cabeleira.


12

Sob o beiral
o espelho nada copia
que não seja a lua.


13

Com a lua em cima
a sombra que se alonga
é somente uma.


14

Era um império
aquela luz que se apaga
ou um vaga-lume?


15

Una lua nova.
Ela também vai olhando-a
de uma outra porta.


16

Um trino longínquo.
O rouxinol te consola
e nem imagina.


17

Mão velha de guerra
segue tra
çando seus versos
para o esquecimento.